
Entre os dias 10 e 13 de outubro, a cidade de Santos mergulhou mais uma vez no universo sonoro e inquieto de Gilberto Mendes, figura central da música contemporânea brasileira, com a realização da 7ª Semana cultural Gilberto Mendes. O evento, que ocupa ruas, praças, museus e até o espaço virtual, celebra os 103 anos que o compositor completaria, reafirmando sua importância como artista que fez da ousadia e da experimentação a base de toda criação.
A programação reuniu concertos, performances, palestras e intervenções artísticas que dialogam diretamente com a estética de Mendes: a música aleatória, a improvisação e a composição em tempo real. “É uma edição voltada para o imprevisível, para a experiência de colocar a arte em estado de risco, tal como Mendes defendia e praticava”, explica o curador Márcio Barreto.
Natural de Santos, nascido em 1922, Gilberto Mendes deixou um legado que extrapola a partitura. Suas composições foram executadas em palcos internacionais, levando a inventividade brasileira a encontros com o experimentalismo mundial. Mendes também foi professor da USP, membro honorário da Academia Brasileira de Música e recebeu a Ordem do mérito cultural, além de inúmeros outros prêmios.
Mas, talvez seu gesto mais visionário tenha sido fundar, nos anos 1960, o Festival música nova, espaço de criação e experimentação. Era sua forma de dizer que a música podia e devia reinventar-se diante do mundo em mutação.
Não se tratava de buscar a beleza formal ou o virtuosismo previsível, mas de tensionar limites: usar o acaso como parceiro, transformar ruídos em melodias possíveis, abrir espaço para a surpresa. A música de Mendes não era feita para adormecer, mas para acordar.
A Semana cultural foi realizada pela Prefeitura de Santos, em parceria com o Imaginário coletivo, Instituto Canoa e Percutindo mundos, com recursos de emendas parlamentares de Chico Nogueira e Telma de Souza.
