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Ópera “Marielle”, de Jorge Antunes, teve estreia mundial em julho

A obra foi apresentada no SESC Ceilândia pela Orquestra Ars Hodierna

Ópera “Marielle”, de Jorge Antunes, teve estreia mundial em julho
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O compositor e acadêmico Jorge Antunes estreou em julho, no dia 27, em Brasília, a ópera “Marielle”, baseada na história real da vereadora do Rio de Janeiro assassinada por milícias em 2018. A obra foi apresentada no SESC Ceilândia também nos dias 26 e 27, pela Orquestra Ars Hodierna e sob regência do próprio Jorge Antunes.

“Composta entre 2022 e 2024, a obra utiliza declarações e discursos de Marielle Franco. Os principais papeis são, além da soprano que encarna a personagem-título, a contralto (sua mulher Mônica), um cadeirante e um ator e mímico encarnando Rui. Em cena, dois cantores de funk. Desfilam não só técnicas vocais sofisticadas como o cantado-falado, canto lírico atonal e neotonal, voz falada empostada, voz falada branca e até o canto-falado do funk”, escreveu João Marcos Coelho sobre a ópera.

“O brutal assassinato da vereadora carioca Marielle Franco, sete anos atrás, no Rio de Janeiro, é um exemplo. A estreia mundial, neste mês, de sua ópera Marielle, coroa de modo impactante sua trajetória. Antunes é daqueles compositores necessários, fundamentais na vida musical brasileira. Sem jamais esquecer a experimentação, é capaz de responder no calor da hora a trágicos acontecimentos”, completa João Marcos Coelho

Marielle: a ópera

A ópera Marielle, dividida em quatro atos, narra a trajetória de luta, amor e resistência da protagonista, ambientada em contextos sociais e políticos do Rio de Janeiro. Uma Abertura orquestral  de 9 minutos prenuncia musicalmente situações, temas musicais e momentos marcantes da história que se desenrolará nos quatro atos.

No primeiro ato (45 minutos), o cenário é uma favela dividida entre barracos e uma sala de aula comunitária. As conversas abordam a violência policial, com relatos de Maria, cadeirante vítima de bala perdida, e a educação como ferramenta de resistência, simbolizada nas aulas de Física do Professor Alcimar, que usa a Terceira Lei de Newton para discutir ação e reação social. Marielle, grávida, critica a opressão estrutural e expressa esperança por um futuro melhor para sua filha, enquanto Mônica reforça a importância da união coletiva.

No segundo ato (29 minutos), o cenário migra para um apartamento na Tijuca, decorado com símbolos de resistência LGBTQ+ e figuras como Frida Kahlo e Ângela Davis. Marielle e Mônica trocam alianças, planejando um casamento que simboliza afeto contra a homofobia. Em paralelo, reúnem-se aliados para organizar a candidatura de Marielle à vereança, discutindo estratégias políticas e alianças. Rui, mudo e sobrevivente da ditadura, realiza uma performance de mímica sobre tortura, conectando passado e presente. A cena é interrompida por interferências na TV, com vozes homofóbicas, reforçando a opressão externa.

O terceiro ato (18 minutos) divide-se entre um teatro de sombras (à esquerda) e a Assembleia Legislativa (à direita). Marielle, já vereadora, denuncia a intervenção militar no Rio, destacando seu impacto racista, enquanto enfrenta interrupções de colegas conservadores. Ela responde com firmeza: “Não dou aparte a milicianos!”. Simultaneamente, uma dupla de funk debate machismo e resistência, ecoando as palavras de Marielle (“Ser mulher é resistir”). O teatro de sombras ilustra corrupção e violência, contrastando com a luta institucional da protagonista.

No quarto ato (36 minutos), a ação ocorre na Casa das Pretas e no apartamento da Tijuca. Um sarau com poemas de Luiz Gama (“Em nós, até a cor é um defeito”) destaca o racismo estrutural, enquanto projeções e cenas simbólicas retratam o assassinato de Marielle (tiros, explosões) e sua transformação em ícone da resistência. Mônica, Maria, Professor Alcimar e Paulão lamentam sua morte, mas prometem continuar a luta, regando o “jardim” com lágrimas para que “novas Marielles” floresçam. O coro final repete o lema “Não conseguirão matar a primavera”, enquanto uma voz eletrônica (“Estamos de olho; à espreita!”) encerra a obra, lembrando a necessidade de vigilância constante contra a opressão.

A ópera mescla realidade e simbolismo, homenageando Marielle Franco e explorando temas como resistência negra, LGBTQIAPN+, violência de Estado e esperança coletiva, deixando um chamado à persistência na luta por justiça.

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