Como gênero de natureza múltipla, a ópera cumpre uma importante função de representação de imaginários socioculturais ao longo de sua história. Os embates políticos e as clivagens sociais, por exemplo, têm sido fontes férteis em temas operísticos. Acompanhando a evolução estética e tecnológica, o gênero se desenvolveu no Brasil ao longo da segunda metade do século XIX, em todo o século XX e adentra o século XXI com uma produção rica em representações da nossa cultura contemporânea, do nosso imaginário político e social. Em 2025, a série “Encontros ABM” discute a ópera brasileira sob as múltiplas perspectivas em que se apresenta artisticamente, valorizando sua congênita interdisciplinaridade, ao mesmo tempo em que também reflete sobre os desafios de sua produção.
Ao longo do primeiro semestre, os encontros mensais abordarão o tema sempre com convidados especiais e mediadores de elevado conhecimento neste segmento artístico. O primeiro Encontros ABM do ano será na terça-feira, dia 18 de março, abordando o tema “Ópera e Literatura brasileira”. Com mediação do jornalista e crítico musical João Luiz Sampaio, participação dos acadêmicos João Guilherme Ripper e Tim Rescala, além do professor, pesquisador e historiador Jorge Coli, pretende-se abordar a interação parceira da literatura e da música sob a perspectiva da dramatização e da liricização, bem como avaliar o diálogo entre a literatura e a música na cultura operística brasileira atual.
Em abril, no dia 8, quinta-feira, será a vez do tema “Ópera, artes cênicas e visuais”. Na ópera, a interdisciplinaridade complementar entre as artes funciona como um tecido uno para a narratividade expressiva do libreto. O cantor, por exemplo, é músico, narrador e ator ao mesmo tempo, exigindo sua atuação em cena conhecimentos de retórica e dramaturgia, onde o gesto, a expressão facial ou o deslocamento em cena importam tanto quanto a técnica vocal e a musicalidade na projeção da narrativa. No consórcio artístico da ópera, a cenografia tem papel significativo na materialização do imaginário da obra.
Ainda em abril, no dia 29, o tema abordado será “Ópera brasileira e novas tecnologias”. As inovações tecnológicas vêm transformando nossa forma de viver, de pensar, e, obviamente, a própria cultura; e a ópera não ficou atrás nesse cenário. Realidade virtual, realidade aumentada, realidade mista, teatro imersivo, vídeo games e som 3-D, por exemplo, são algumas das tendências tecnológicas que companhias de ópera vêm experimentando, no sentido da acessibilidade do espetáculo a novos públicos. Como a ópera brasileira resiste e se reinventa no contexto tecnológico contemporâneo é o que este Encontro pretende discutir.
“Ópera, política e atualidade” será o tema do Encontros ABM de maio, que acontecerá no dia 20, terça-feira. Desde sua emergência na Florença renascentista, a ópera refletiu o ambiente político. Sendo um gênero narrativo com grande poder de impactar e influenciar audiências, frequentemente ofereceu-se como um barômetro das crenças e ansiedades sociais, além de ser sempre adaptável a novos significados em novas circunstâncias sociais. Dentre vários exemplos na história da música, pode-se citar o papel das óperas de Verdi no movimento de unificação da Itália, lembrando especialmente seu famoso coro dos escravos hebreus na Babilônia, “Va, pensiero” (Nabucco, 1842), um hino do Risorgimento que ainda pode ecoar como canção de qualquer povo oprimido. Neste Encontro, discute-se como a ópera brasileira tem refletido nosso contexto político-cultural.
Fechando o primeiro semestre, no dia 17 de junho, terça-feira, se discutirá o tema “Ópera, produção, coprodução e circulação”. A produção, coprodução e circulação de óperas enfrentam imensas dificuldades num país de dimensões continentais como o Brasil. Porém, elas são necessárias para difundir o gênero, amortizar os custos de produção, democratizar o acesso ao bem cultural e fomentar economicamente a indústria da ópera. Há também o desafio de compatibilizar os diferentes tamanhos e aparatos técnicos dos teatros, além de vencer os obstáculos impostos pela legislação pública, à qual estão submetidos a maioria dos teatros. Neste encontro pretende-se discutir essas questões e as experiências bem-sucedidas do passado que mostram ser este um caminho viável para aumentar a difusão da ópera em nosso país.