
A música brasileira se despediu, no último dia 12 de maio, do compositor brasileiro Ernst Mahle. Aos 96 anos, ele estava internado no Hospital Unimed, em Piracicaba, mas a causa da morte não foi divulgada. Nascido em Stuttgart, na Alemanha, Mahle mudou-se para o Brasil com a família em 1951, aos 22 anos. Em 1962 naturalizou-se brasileiro e aqui desenvolveu toda sua trajetória, ajudando a formar gerações de grandes músicos e atuando como prolífico compositor, autor de um catálogo que ultrapassa as mil obras.
Mahle estudou no Conservatório Dramático Musical de São Paulo e na Escola Livre de Música Pró-Arte, com Hans-Joachim Koellreutter. Ali também conheceu a sua futura esposa e companheira de toda vida, M. Apparecida Romero Pinto, a Cidinha, que era aluna de regência de Koellreutter. Em sua formação, também frequentou cursos internacionais de férias em Lucerna (Suíça), Darmstadt (Alemanha) e Salzburgo (Áustria), onde foi aluno de Olivier Messiaen, Wolfgang Fortner e Ernest Krenek. Estudou também regência com L. von Matacic, Rafael Kubelik e Mueller-Kray.
Em 1953, junto com Cidinha, Koellreutter e outros, fundou a Pró-Arte de Piracicaba, hoje Escola de Música de Piracicaba Maestro Ernst Mahle, EMPEM, pertencente ao Instituto Educacional Piracicabano da Igreja Metodista. Ali exerceu, durante mais de 50 anos, as funções de diretor artístico, professor e maestro.
Mahle escreveu as óperas “Maroquinhas Fru-Fru”, (1974), com libreto de Maria Clara Machado; “A Moreninha” (1979), com libreto de José Maria Ferreira; “O Garatuja” (2006), com libreto de Eugénio Leandro, e “Isaura” (2022), com libreto de Marcelo Batuíra. Ocupava a cadeira nº 6 da Academia Brasileira de Música, que tem Sigismund Neukomm como patrono e Antônio Garcia de Miranda Neto com fundador.
Em seu catálogo, destacam-se peças para as mais diferentes formações. “Diálogo” para violão e cordas, de 1971, é “profunda, meditada, muito construída em sua alternância dos solos de violão e da participação dos arcos”, como a definiu o historiador Jorge Coli. Na série “Viajando pelo Brasil” (1997), pela qual tinha especial apreço, ele reuniu melodias de 20 Estados brasileiros, distribuídas em três suítes que podem ser tocadas na sequência, correspondendo a uma viagem de um Estado para o outro.
O compositor também dava importância especial ao “Salmo 148”, criado em 1970 para três diferentes formações: coro e orquestra de cordas, coro e orquestra sinfônica, e coro, orquestra de cordas e órgão. Em uma entrevista, ele afirmou que, ao presenciar a sinfônica executando a música, teve pela primeira vez o sentimento de que “a música tem a capacidade de unir as pessoas e transmitir paz e harmonia”. “Eu tive a sensação de que eu vim a este mundo para fazer música”, disse. Ainda no universo da música sacra, em 1976, ele criaria a “Missa de São Francisco”.
Entre os concertos, há peças para flauta (1957), violoncelo (1958), piano (1974), violino (1978), trombone (1983), clarineta (1988) e contrabaixo (1990), viola (2015), violino e viola (2017), fagote (2020), frequentemente executados. Para orquestra de cordas, Mahle escreveu diversas obras que se encontram entre as mais tocadas do repertório brasileiro como a “Suíte Nordestina” (1976), a “Sinfonietta” (1978) e o “Divertimento Hexatonal” (1983). Na música de câmara, há sonatas, sonatinas, duos e trios para diferentes instrumentos, além de dezenas de canções que entraram para o repertório de artistas brasileiros dedicados a esse repertório.