
Medalha é concedida anualmente a grandes personalidades da vida musical brasileira por suas relevantes trajetórias profissionais, contribuições para a música no Brasil e para a obra de Villa-Lobos
A Academia Brasileira de Música acaba de anunciar os vencedores da Medalha Villa-Lobos 2025: na categoria Compositor, foi escolhido o músico paraibano Eli-Eri Moura, o Quinteto Villa-Lobos venceu na categoria Intérprete e Ermelinda Azevedo Paz foi o destaque na categoria Musicólogo/Educador. Instituída em 2015, a medalha é concedida anualmente a grandes personalidades da vida musical brasileira por suas relevantes trajetórias profissionais, contribuições para a música no Brasil e para a obra de Villa-Lobos em particular. Os vencedores receberão a honraria no dia 18 de julho, sexta-feira, na Sala Cecília Meireles, durante a realização de um dos concertos comemorativos dos 80 anos da Academia Brasileira de Música, a cargo do naipe de cordas da Orquestra Sinfônica da UFRJ, sob a regência do acadêmico Roberto Duarte.
Medalha Villa-Lobos
No primeiro ano, em 2015, foram contempladas as três categorias (compositor, intérprete e educador), tendo sido homenageados Murillo Santos (1931-2019) como compositor; Isaac Karabtchevsky, José Botelho e Eládio Perez Gonzalez (1926-2020) empatados como intérpretes, e Berenice Menegale como educadora. A partir de 2016, passou a ser contemplada uma categoria por ano. Foram homenageados então Marisa Rezende (compositora, 2016), o fagotista Noel Devos (educador, 2017), a flautista Odette Ernest Dias (2018) e o pianista Gilberto Tinetti (2018) empatados como intérpretes e Liduino Pitombeira (compositor, 2019). A pandemia interrompeu o processo e a ABM não concedeu a medalha nos anos de 2020 e 2021.
Em 2022, a ABM decidiu conceder as três premiações, de modo a cobrir também as dos anos anteriores. Foram premiados Fernando Cerqueira, compositor, Antonio Menezes, intérprete, e Elisa Fukuda, educadora.
OS VENCEDORES DE 2025
ELI-ERI MOURA
Nascido em 30 de março de 1963, em Campina Grande/PB, Eli-Eri Moura é compositor, teórico e regente. Trabalha no Departamento de Música da Universidade Federal da Paraíba – UFPB, como professor dos programas de Graduação e Pós-Graduação em Música. Foi o idealizador do Laboratório de Composição Musical – COMPOMUS, tendo sido seu primeiro coordenador, função que exerceu por dois mandatos consecutivos (2003 a 2007). Primeiro profissional na história da UFPB a ser contratado como professor de composição, foi responsável pela implantação dessa área em diversos níveis, incluindo os cursos de extensão em composição do COMPOMUS, em 2003, dos quais surgiu o atuante grupo Novos Compositores da Paraíba. Desde 2003, Eli-Eri Moura é Coordenador da Área de Disciplinas Teóricas – CDT do Departamento de Música da UFPB.
Graduou-se no curso de Bacharelado em Música – Piano, em 1985, pela UFPB, tendo sido aluno de Myriam Ciarlini. Em seguida, realizou o Curso de Especialização em Música do Século XX, também na UFPB, sob orientação de Ilza Nogueira. Estudou composição com José Alberto Kaplan e Mário Ficarelli, no Brasil, e posteriormente com Alcides Lanza, John Rea e Brian Cherney, no Canadá, onde obteve seus títulos de Mestre e Doutor em Composição pela McGill University, Montreal, com bolsas da CAPES e da universidade canadense.
Seu catálogo inclui mais de 100 títulos: peças para diversos grupos de câmara, coro e orquestra, assim como músicas para peças de teatro, vídeos e filmes. Suas trilhas sonoras ganharam diversos prêmios em festivais brasileiros, incluindo o 10.º Vitória Cine Vídeo, Vitória – ES, em 2003. Trechos de algumas dessas trilhas encontram-se gravados no CD “Eli-Eri Moura: Trilhas”, lançado em 1996, como resultado da primeira colocação no Edital de Auxílio à Gravação de Discos e Circulação de Espetáculos em Música no Estado da Paraíba, promovido pela Fundação Espaço Cultural da Paraíba (FUNESC). Sua obra para coral está sendo publicada nos Estados Unidos pela Editora Cantus Quercus.
Participou de importantes festivais como compositor: Bienal de Música Brasileira Contemporânea, Rio de Janeiro (sete participações ao todo, desde 1985, quando foi o mais jovem compositor do evento); Festival Música Nova, Santos; MusiOctober New Music Festival, Montreal; Encontro de Compositores Latino-Americanos, Porto Alegre, dentre outros. Em 2002, foi selecionado através de concurso para participar do World Music Days, da International Society for Contemporary Music (ISCM), um dos mais importantes festivais internacionais de música contemporânea, realizado nesse ano em Hong Kong (China), com a peça Circumsonantis, para quarteto de cordas. Na ocasião, foi o único representante brasileiro.
Seu trabalho no campo da teoria da música tem sido divulgado em importantes periódicos nacionais e internacionais, como Contemporary Music Review (no qual publicou um longo artigo sobre o compositor francês Edgard Varèse), Em Pauta, Per Musi e Musica Hodie, e através de palestras em universidades nacionais e estrangeiras, como McGill University (Canadá), USP, UFPR, UFRN, UFCG.
Além de professor na Escola de Música do Estado da Paraíba Antenor Navarro, onde lecionou harmonia, contraponto e análise, Eli-Eri Moura foi regente do Madrigal da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal (1986 e 1987), do Grupo Anima (de música antiga), João Pessoa (1985 a 1989), e do Coral Universitário da Paraíba Gazzi de Sá, João Pessoa (1985 a 1989; 1992 a 1996), com os quais se apresentou em João Pessoa, cidades do interior da Paraíba e em várias outras capitais de Estado (Recife, Natal, Maceió, Aracaju, São Paulo, Porto Alegre, Fortaleza). Com o Coral Universitário da Paraíba gravou o CD institucional “Eli-Eri Moura: Requiem Contestado” (uma peça de sua autoria, para solistas, coro e orquestra de câmara), lançado em 1996 pela UFPB.
Eli-Eri Moura recebeu distinções como o Diploma de Menção Honrosa por Destaque em Atividades Culturais, outorgado pelo Conselho Estadual de Cultura da Paraíba, em 1994; Dean´s Honour List due to outstanding performance, pelo desempenho acadêmico durante o Curso de Mestrado, McGill University, Canadá, 1995; Max Stern Fellowship in Music, McGill University, Canadá, 1996. Foi integrante titular do Conselho Estadual de Cultura da Paraíba no período de julho de 1995 a agosto de 1996. É membro da Sociedade Brasileira de Música Contemporânea e da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Música (ANPPOM).
Em 2005, foi contemplado pelo Programa Petrobrás Cultural 2004–2005 para gravar parte de sua produção de música contemporânea no CD “Eli-Eri Moura: Música Instrumental”.
Em dezembro de 2006, lançou o CD “Eli-Eri Moura: Música de Câmara”, patrocinado pelo FIC – Fundo de Incentivo à Cultura Augusto dos Anjos, do Governo do Estado da Paraíba, com o GRUPO SONANTIS, de música contemporânea (UFPB), do qual é diretor. Atualmente, escreve o livro “O Estudo da Harmonia Tonal: Uma Abordagem Composicional a Partir da Gestalt”.
Eli-Eri Moura dedica-se ao desenvolvimento de um processo composicional por ele chamado música desfragmental, aplicado em suas peças de concerto. Esse processo recria e sintetiza vários procedimentos da música contemporânea, e interage, de forma estrutural, com referências de manifestações musicais populares brasileiras, cujos elementos são explorados a partir de aspectos microdimensionais (processos de desfragmentação). Concomitantemente, o compositor também trabalha com uma linguagem que recorre a um léxico musical mais convencional e acessível, adotada em algumas de suas obras corais e em sua música incidental.
(https://www.ufpb.br/compomus/contents/paginas/eli-eri-moura)
QUINTETO VILLA-LOBOS
O Quinteto Villa-Lobos foi fundado em 1962 com a proposta de divulgar a música de câmara brasileira. Formado por instrumentistas que exercem atividades de solistas em todo o Brasil e no exterior, o Quinteto Villa-Lobos reúne atualmente Rubem Schuenck, (flauta), Rodrigo Herculano (oboé), Cristiano Alves (clarineta), Philip Doyle (trompa) e Aloysio Fagerlande (fagote).
O Quinteto Villa-Lobos já se apresentou na maioria das cidades brasileiras, além de ter aberto as comemorações do ano Villa-Lobos em Paris, na Unesco, em 1987. Em julho de 2001 o grupo se apresentou com Egberto Gismonti no Festival “Tocar La Vida”, na Argentina.
Em setembro de 2001 o grupo recebeu o Prêmio Carlos Gomes, promovido pelo Governo do Estado de São Paulo e em sua primeira versão com abrangência nacional, como melhor grupo camerístico do país. Em 2009 voltou a receber o mesmo prêmio.
Em março de 2002 foi homenageado por seus 40 anos com a série “Quinteto Villa-Lobos – 40 Anos de Música Brasileira” no Centro Cultural Banco do Brasil, Rio de Janeiro; em maio/junho de 2002 participou do Projeto Sonora Brasil-SESC, se apresentando em 32 cidades brasileiras, de Santa Catarina ao Amapá.
Em 2006 foi um dos vencedores do projeto “Circulação de Música de Concerto” promovido pelo CEMUS-Funarte e patrocínio Petrobrás, realizando 12 concertos no Ceará, Pernambuco, Paraíba e Alagoas. Neste mesmo ano encerrou a “Copa da Cultura” com concerto em Berlim, Alemanha
Em 2007 realizou concertos e oficinas em Natal/RN, com patrocínio da Oi-Futuro. Em 2008 realizou o projeto “Oi apresenta: Quinteto Villa-Lobos” no Rio de Janeiro, com 35 concertos e oficinas por cidades do Estado, turnê de lançamento do CD “Quintetos de Sopro Brasileiros”, com concertos em São Paulo, Curitiba, Florianópolis e Porto Alegre, com patrocínio da Petrobras, além de apresentações e oficinas no Chile, Paraguai, Peru e Equador a convite do Ministério das Relações Exteriores do Brasil.
Em 2009 o grupo se apresentou em vários países africanos, também a convite do Ministério das Relações Exteriores do Brasil – e em dezembro encerrou um importante Festival dedicado a Villa-Lobos com concerto na Rádio-France, Paris.
O grupo está sempre convidado a participar dos mais importantes Festivais de Música no Brasil, como o Festival de Inverno de Campos do Jordão, São Paulo; a “Oficina Orquestra Jovem” em Curitiba, Paraná; o Festival de Inverno de Londrina, Paraná; o Festival de Música de Câmara da Paraíba; o Festival de Música de Tatuí; e o Curso de Verão de Brasília.
Sempre fiel à sua proposta inicial, o quinteto tem participado também de eventos fora do âmbito da música de concerto, como o “Chorando Alto”, importante festival anual de choro realizado em outubro de 1998 no SESC – Pompéia, em São Paulo, SP, com enorme reconhecimento por parte da crítica especializada, além de apresentações no Clube do Choro de Brasília em 2003, 2005, e 2009, e no Festival “Sopros do Brasil”, no SESC Pinheiros, São Paulo, em 2004.
Em 2012, foram comemorados os 50 anos de atividade ininterrupta do mais antigo grupo de câmara no Brasil. A celebração dessa data tão especial se deu no projeto “Quinteto Villa-Lobos – 50 anos de música”, com a gravação de DVD e blu-ray e a realização de uma série de concertos na cidade do Rio de Janeiro.
Em 2013 participou do Festival de Música Clássica Brasileira em Portugal, se apresentando em Lisboa, Porto, Coimbra, Évora e Mafra. Também foi convidado a participar de uma série de eventos musicais paralelos à Feira do Livro de Frankfurt, em setembro, além de integrar a programação do Festival Cervantino no México, um dos maiores da América Latina, em outubro.
Em 2014 e 2017 se apresentou no importante Cartagena Music Festival na Colômbia.
Em 2018, no palácio do Itamaraty, o grupo foi agraciado pelo ministro das Relações Exteriores, com a Comenda da Ordem de Rio Branco, por sua contribuição à música brasileira.
Em 2022 realizou a estreia de Villa, concerto para quinteto de sopros e orquestra de Liduino Pitombeira, com a Orquestra Sinfônica de Porto Alegre, obra escrita em homenagem aos 60 anos do grupo.
Em 2023 realizou turnê com concertos e masterclasses em Belém do Pará (PA) e São Luís (MA), além de uma série comemorativa em alusão aos 60 anos no CCBB Rio de Janeiro.
Os membros fundadores do Quinteto foram Celso Woltzenlogel (flauta), Paolo Nardi (oboé), Wilfried Berk (clarinete), Carlos Gomes de Oliveira (trompa) e Airton Lima Barbosa (fagote). Naturalmente diversos músicos integraram o QVL ao longo dessas seis décadas.
ERMELINDA PAZ
A partir de 1972, começou a trabalhar como professora de Percepção Musical da UNIRIO e passou a desenvolver intensa atividade como pesquisadora. Sua monografia “As pastorinhas de Realengo” obteve, em 1983, menção honrosa no Prêmio Silvio Romero do Instituto Nacional do Folclore, tendo sido publicada em 1987 pela Editora da UFRJ. Entre 1987 e 1989, ouviu diversos compositores sobre o modalismo na música brasileira, como Hans-Joachim Koellreutter, César Guerra-Peixe, Edino Krieger, Aylton Escobar e Marisa Rezende. A pesquisa resultou em livro publicado pela MusiMed em 2002.
Seu trabalho “Villa-Lobos e a Música Popular Brasileira” ficou em primeiro lugar no concurso de monografias promovido pelo Museu Villa-Lobos/Pró-Memória/Minc em 1988. Neste ano, seu ensaio “Villa-Lobos, sua vida e obra” obteve o quarto lugar no concurso promovido pela OEA (Organização dos Estados Americanos) e pelo governo brasileiro. Ainda em 1988, conseguiu o terceiro lugar no Prêmio “Grandes Educadores Brasileiros” do INEP/MEC com “Villa-Lobos, o educador”, e publicou o livro “500 canções brasileiras”, um dos mais procurados até hoje por estudantes de música (reeditado em 2010 pela MusiMed).
Em 1989, fez uma série de entrevistas com personalidades que conviveram com Jacob do Bandolim, como Elizeth Cardoso, Sérgio Cabral, Hermínio Bello de Carvalho, Paulo Tapajós, Dalton Vogeler e os integrantes do conjunto Época de Ouro (Dino, César Faria, Jonas e Carlinhos). A pesquisa resultou no trabalho “Jacob, um bandolim inesquecível”, primeiro lugar no Prêmio Lúcio Rangel do Instituto Nacional de Música da Funarte daquele ano, e somente publicado em 1997.
Dentro da série Cadernos Didáticos da UFRJ, editou, em 1993, dois livros: “As estruturas modais na música folclórica brasileira” e “Um estudo sobre as correntes pedagógico-musicais brasileiras”. Dois anos depois, ganhou um prêmio especial da Secretaria Municipal de Cultura do Rio de Janeiro ao participar do Prêmio Carioca de Pesquisa Monográfica com seu trabalho “Sôdade do Cordão”, sobre o bloco carnavalesco idealizado por Heitor Villa-Lobos em 1940 e recriado pela equipe do Museu Villa-Lobos em 1987. Este ensaio seria publicado em forma de livro apenas em 2000, mesmo ano em que foi lançada outra de suas obras de referência para estudantes e pesquisadores: “Pedagogia musical brasileira no Século XX – Metodologias e tendências”, cuja segunda edição, revista e ampliada, foi lançada em 2013.
Recebeu da Câmara Municipal do Rio de Janeiro a Medalha Pedro Ernesto em 2002. No ano seguinte, foi agraciada com o Woman of Achievement Award pelo International Biographical Centre de Cambridge, na Inglaterra. Entre 2002 e 2004, participou de 18 programas da série “Compositores brasileiros” da Rádio MEC, falando sobre diversos assuntos: o modalismo na música brasileira, a trajetória das Bienais de Música Brasileira Contemporânea, Villa-Lobos e a MPB e vida e obra do compositor Edino Krieger. Somente em 2004 logrou publicar em livro seu estudo “Villa-Lobos e a Música Popular Brasileira – Uma visão sem preconceito”, premiado em 1988.
No final de 2006, foi laureada com o Prêmio Lions Cultura, entregue na Confederação Nacional do Comércio do Rio de Janeiro. Em 2009 recebeu duas condecorações: a Medalha do Mérito Marechal Cordeiro de Farias, da Escola Superior de Guerra, e a Ordem do Mérito Aeronáutico. No ano seguinte, ganhou a Medalha do Mérito do Ministério da Defesa. Lançou, em 2012, pelo SESC Nacional, os dois volumes da biografia “Edino Krieger: o crítico, o produtor musical e o compositor”, fruto de um extenso trabalho de pesquisa iniciado em 1997.
Fez cursos de pós-graduação na UNIRIO, na UFRJ e na Universidade Nacional de Rosário, na Argentina, como bolsista da OEA. Ocupou diversos cargos acadêmicos, entre eles: chefe da Seção Técnica de Ensino e Pesquisa do Instituto Villa-Lobos da UNIRIO; chefe do Departamento de Comunicação em Artes do Instituto Villa-Lobos da UNIRIO; coordenadora dos cursos de música desta mesma instituição; coordenadora de graduação da Escola de Música da UFRJ; membro do Conselho Administrativo da Fundação José Bonifácio (2003 a 2007); coordenadora da Divisão de Assuntos Psicossociais da Escola Superior de Guerra (2007 a 2009); e coordenadora do curso de Licenciatura em Música da Escola de Música da UFRJ (2010 a 2011).
Ermelinda A. Paz possui uma página na internet (www.ermelinda-a-paz.mus.br), onde disponibiliza os artigos publicados por ela em periódicos, além de quase todos os livros que escreveu.