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XXIV Bienal de Música Brasileira Contemporânea: um balanço | por André Cardoso

Todos os concertos foram transmitidos ao vivo, gravados e se encontram disponíveis no canal Arte de Toda Gente, da Funarte

XXIV Bienal de Música Brasileira Contemporânea: um balanço | por André Cardoso
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Por André Cardoso

 

A XXIV Bienal de Música Brasileira Contemporânea era a mais improvável das Bienais. Não havia muitas perspectivas. As incertezas causadas pela pandemia tornavam reais as possibilidades de cancelamento. Foram muitas as vezes que ouvi a pergunta que invariavelmente é feita pelos compositores quando a temporada de concertos se inicia em anos ímpares: “Vai ter Bienal?”. Não havia resposta. A pergunta, no entanto, sempre me pareceu uma pergunta retórica, ou seja, aquela da qual não se espera uma resposta, pois todos sabem que a Bienal, embora não sem percalços, nunca falhou. Todos sabem também que, mesmo com restrições orçamentárias, a Bienal é geralmente o evento que, a cada dois anos, recebe o maior volume de recursos no Centro da Música da Funarte. A música contemporânea tem historicamente seu lugar privilegiado. Parece haver um entendimento tácito entre compositores, intérpretes e gestores sobre a importância do evento que garante sua continuidade. Não foi diferente com a XXIV Bienal, que foi realizada entre 13 e 24 de novembro de 2021.

Como o presente artigo se propõe a fazer um balanço geral da última edição do evento, não caberá aqui uma reflexão sobre o modelo do evento, tampouco sobre seu resultado artístico. Todos os concertos foram transmitidos ao vivo, gravados e se encontram disponíveis no canal Arte de Toda Gente, da Funarte. Assim, cada um poderá fazer suas próprias avaliações. Aí se encontra um dos aspectos que gostaria de ressaltar como um diferencial da edição de 2021. Pela primeira vez transmitida ao vivo, em tempo real, a Bienal ganhou uma efetiva abrangência nacional. Se em edições anteriores tal abrangência se dava exclusivamente pelas obras encaminhadas por compositores de todo o Brasil e a participação de intérpretes de fora do Rio de Janeiro, em 2021 agregamos um público muito maior, muito mais amplo, com acessos até mesmo do exterior, um público que não caberia presencialmente nos 670 lugares da Sala Cecília Meireles e que cresce a cada nova visualização.

O crescimento também pode ser observado no número de concertos. Nas cinco edições anteriores houve um paulatino decréscimo, com 11 em 2011, 9 em 2013 e 2015, 7 em 2017, chegando a apenas 6 em 2019, o menor número de concertos desde 1975, quando foi criada por Edino Krieger e Miriam Dauelsberg. Os 11 concertos organizados para a XXIV Bienal em 2021 retomaram o patamar de uma década atrás e refletem o igual aumento no número de compositores programados, um total de 75, com 44 obras em estreia mundial.

Outro número a destacar é o de orquestras participantes, seis ao todo, só superado pelas sete orquestras da XIII Bienal, em 1999. Ressalto aqui a participação da Orquestra Sinfônica Jovem do Rio de Janeiro, mantida pela Ação Social pela Música, que, através do Sistema Nacional de Orquestras Sociais – Sinos – um programa da Funarte desenvolvido em parceria com a UFRJ, propiciou “aproximar os jovens dos projetos sociais do universo da música contemporânea, ao mesmo tempo em que traz para o evento a face real de uma atividade musical pujante, que ocorre fora dos meios acadêmicos”, como escrevi no programa. O destaque foi não só pela participação, mas por terem realizado o concerto de abertura, com quatro obras em estreia.

Evidentemente que há edições anteriores com números mais expressivos, como os 15 concertos das Bienais de 1989 (VIII) e 1997 (XII). Há de se ressaltar, todavia, não só as restrições orçamentárias, mas também as sanitárias, que condicionaram os efetivos das obras, dos meios de execução e o formato dos concertos. O tempo exíguo no qual a XXIV Bienal foi organizada também é outro fator importante a ser considerado. Apenas no início de setembro recebemos o convite da Funarte para que a Escola de Música da UFRJ assumisse a produção, ou seja, que foi possível responder: “Sim, vai ter Bienal”. Foram dois meses de intenso trabalho, nos quais os expedientes foram estendidos, os finais de semana abolidos e as equipes da Funarte, da Escola de Música, do Sinos e da Sala Cecília Meireles se integraram.

Trabalho intenso teve também a comissão de seleção, composta por regentes e compositores de diferentes estados do país. Foram mais de 250 inscrições. Selecionar 48 em tão pouco tempo a partir de um universo tão amplo e eclético de obras só foi possível pela enorme competência e dedicação de todos os integrantes.

Aos selecionados se juntaram os compositores convidados, aqueles com mais de 50 anos e com pelo menos dez participações em Bienais anteriores. Foi formado assim, dentro do possível, um amplo painel da produção musical brasileira mais recente, com compositores jovens e já consagrados, cujas obras nos revelam uma criação contemporânea significativa, onde não há espaço para os patrulhamentos estéticos, onde cada compositor se expressa livremente.

A mais improvável das Bienais terminou e creio que o saldo foi bastante positivo. Foi um privilégio assumir, a convite da Funarte, a coordenação artística da edição de 2021. Temos agora dois anos até 2023, quando teremos a 25ª edição, um marco a ser comemorado, assim como será a 26ª., em 2025, na qual poderemos celebrar os 50 anos de um dos mais longevos eventos musicais do país e o principal dedicado à produção contemporânea. Alguém duvida de que terá Bienal?

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