
A Orquestra sinfônica brasileira, dando continuidade à série “Concertos para a juventude”, apresentou mais uma edição no último dia 19 de outubro, no Teatro Carlos Gomes. No programa, a obra “Brincando de orquestra”, do compositor e acadêmico Tim Rescala, que também foi o regente do concerto. A peça, que tem como objetivo esclarecer o universo da música sinfônica ao público de forma lúdica e interativa, contou ainda com os atores José Mauro Brant, Victória Amaturo, João Prata e Ryan Olsan, além da direção cênica de Izak Dahora.
“Brincando de orquestra” é uma daquelas obras que rapidamente se estabelecem como uma grande referência. Escrita em 1999 como resultado de uma bolsa de incentivo à criação artística, a obra de imediato conquistou o público graças à sua abordagem lúdica e leve. Treze anos após a sua estreia, em 2012, o projeto foi lançado em DVD, e em 2014 ganhou um site interativo.
Tim Rescala, conhecido não apenas por sua atividade como compositor, pianista, arranjador, dramaturgo e ator, mas também por sua produção voltada ao público infantil, constrói aqui uma narrativa apaixonante e espirituosa que demonstra, na prática, como se organiza uma orquestra, como se comportam os seus músicos e como se combinam os sons de cada instrumento para formar um todo coerente. A obra dialoga diretamente com a tradição de peças como “Pedro e o Lobo”, de Prokofiev, e “Guia dos jovens para a orquestra”, de Britten, mas o compositor inova ao fazê-lo em forma de peça de teatro, conferindo à experiência frescor e originalidade.
A trama acompanha três crianças — Bernardo, João e Isabela — que recebem da professora uma tarefa de fim de semana: realizar uma pesquisa sobre a orquestra sinfônica. Desesperados, já que nenhum dos três jamais havia assistido a um concerto, eles recorrem ao tio Heitor, funcionário do Theatro Municipal e arquivista da orquestra. Sensível e entusiasmado, o tio os leva a um camarote do teatro, para assistirem o ensaio da orquestra. A partir desse momento, o público acompanha, junto das crianças, uma verdadeira descoberta musical.
Enquanto o ensaio prossegue, Tio Heitor explica a função das diferentes famílias e instrumentos, revelando a riqueza de timbres e papéis que compõem o conjunto orquestral, e mostrando como os músicos interagem e combinam os seus sons para criar uma obra coletiva. A narrativa ganha um tempero especial quando uma inesperada batucada de escola de samba se integra ao ensaio, e é João, profundo conhecedor do ritmo, quem passa a ensinar aos colegas, e até mesmo ao próprio tio, o universo da percussão popular brasileira, ampliando o diálogo entre tradição clássica e manifestações culturais do Brasil.
